15 março, 2016

Divulgação - Pérolas da Minha Surdez de Nuccia de Cicco - Entrevista

Hora de conhecer um cadinho mais sobre autora de Pérolas da Minha Surdez. Eu mais alguns blogs fizemos diversas perguntas a ela, e carinhosamente todas foram respondidas. Vamos Ver como ficou essa entrevista batuta?


O que a levou a escrever? Escrever sempre foi um hábito teu? (feita pelo Blog Blá Blá Blá da Lis e pelo Blog Devaneios Estrellares)
R. Hum... pergunta capciosa.... Existem muitos fatores que eu poderia considerar como aqueles iniciais. E não, escrever não é um hábito de tempos remotos. Ler sempre foi!
Com poesias, foi bem simples e começou na adolescência: o sentimento vinha, as palavras vinham logo depois e tudo escapava para o papel. Já os contos e livros foram bem mais atuais e é mais difícil saber o que motivou. Ler (de tudo! Livros, jornais, revistas, outdoor) é um fator, óbvio. Mas não o suficiente para que eu deixasse a zona de leitor e passasse a de escritor. Eu tinha muitas ideias do tipo “E se...” e as anotava mas nunca as desenvolvi, nem pensava em livros publicados. Até ver um curso e uma chamada para antologia. E pensei... “por que não tentar?” E estamos aqui, dois anos depois.

Qual sua inspiração para escrever seus livros? (feita pelo Blog Livraria dos Sonhos e pelo Blog Cantinho Cult)
R.: Meus textos não têm hora ou local, nenhuma inspiração específica. A inspiração pode vir de uma situação cotidiana, de uma cena em um filme ou seriado, de conversas aleatórias. Pode vir de um acidente ou de observar a natureza. A inspiração chega na hora que quer, seja de manhã, no ônibus, às vezes de madrugada. Por exemplo: o conto “Curiosidade” foi inspirado em um acidente em casa, quando a prateleira de vidro caiu e espalhou vidro embaixo da minha cama. Daí eu olhando enquanto limpava, pensei: “que louco seria se tivesse um alçapão ou porão escondido embaixo da cama...” E tchans! Rsrs...
Livro completo mesmo, apenas o Pérolas. A maioria do meu trabalho é contos e poesia. O próximo livro, cuja escrita estou iniciando, é uma ficção fantástica, fantasia urbana. A inspiração pra ele veio do fato de terem poucos livros com a temática central que escolhi.

O que faz parte do seu processo criativo? Tem algum ritual para escrever os livros? (feita pelo Blog Cantinho Cult)
R.:  Eu procuro manter um horário para escrever. Tento, muito veementemente, manter este horário (que costumam ser dias de semana pela manhã e sábado à noite), mas eu sou um bocado inconstante. Por ter outras profissões, às vezes é impossível seguir um processo ou ritual específico. O que costuma acontecer quando eu realmente consigo me focar é: preciso de um pacote de biscoito salgado; preciso de uma caixa de doce (bombom, cocada, não importa); preciso do meu caderno de ideias e caneta preta; e que me interrompam com questões triviais o mínimo possível. Desligo as notificações de redes sociais e deixo o celular longe da mesa para não me distrair com as vibrações do whatsapp. Quando começa o bloqueio criativo, saio da mesa e vou perturbar minha cadela. Rsrs...

Possui textos e poesias publicadas em várias antologias, correto? (feita pelo Blog Entre Livros e Pergaminhos)
R. Correto! Em 2014, quando completei meu doutorado, percebi que poderia investir em outras áreas de estudo. Após dois anos de embromação, decidi me aprofundar na carreira de escritor. Então, comecei cursos à distância e participei de seleção de contos para antologias, que conheci em um grupo de escritores de uma rede social. Meu primeiro conto (“Pendências”) e duas poesias mais antigas (“Dúvida” e “Maldita Saudade”) foram selecionados para Antologia Amor e Morte, em setembro/2014. A partir daí, as oportunidades começaram a aumentar e desde então eu já tenho 3 cursos completos e outros textos selecionados para as seguintes Antologias, todas organizadas pela autora Rô Mierling: “Lenço Vermelho” (conto), na Antologia Sombras e Desejos; “Curiosidade” (conto), na Antologia Eu me Ofereço-Tributo a Stephen King; “Quanto tempo”, “Paradoxo de uma vida”, “365 dias”, “Vida corrida” e “Eu danço” (5 poesias) para a Antologia Vida e Verso.
Quem quiser ler os contos e as poesias, podem acessar meu blog (http://1001nuccias.blogspot.com.br/).

Como surgiu a ideia de escrever o livro? (feita pelo Blog My SecretWorld)
R.:  A ideia começou a tomar forma quando eu estava começando meu doutorado, mais ou menos, a mesma época em que comecei a me acostumar com leitura labial de pessoas estranhas. Aconteceu uma situação engraçada em que uma pessoa fez uma pergunta bizarra e, então, compartilhei a história em uma rede social. Viralizou e a reação foi imediata: “você deveria escrever um livro sobre essas ‘pérolas’, vai ajudar todo mundo a entender esse mundo novo...” E durante três anos a ideia ficou lá, guardada, até finalmente chegar a vocês.

O que motivou a escrita de “Pérolas de minha surdez”? (feita pelo Blog Clube do Livro e Amigos)
R.: Ter a ideia e a motivação são coisas diferentes. Gostei de responder essas duas perguntas em separado. Como vocês viram aí em cima, a ideia surgiu por uma situação cotidiana que para mim era coisa nova. A motivação para realmente fazer o livro sair do âmbito das ideias e ir ao computador, na verdade, foram duas: 1) uma amiga que insistiu durante meses que eu deveria mesmo escrever cada detalhe da adaptação tendo em vista que ajudaria muitas pessoas a entenderem o meu lado e 2) a quantidade de perguntas e reações bizarras só aumentava! Com o tempo eu parei pra pensar que muitas delas eram minhas perguntas também, quando ainda ouvia e não conhecia esse mundo. Ajudar a mm e a outros surdos a serem compreendidos foi a motivação final.


Quais foram os motivos que provocaram a sua surdez? (feita pelo Blog Smile, You Have a Book)
R.: Ahá... vou dar spoiler do livro!.... Hahaha... de forma rapidinha, sem entrar muito no assunto: descobri, já na fase adiantada da doença, que tenho um defeito genético no cromossomo 22. Esse defeito faz com que meu organismo não produza uma proteína supressora de tumores. Essa proteína protege essencialmente os neurônios. Então, meu defeitinho, faz com que tumores possam crescer no meu sistema nervoso. E eles começam especificamente no sistema nervoso auditivo o que leva à surdez por afetar o nervo auditivo e os ossos ao redor dele.. A doença se chama Neurofibromatose do tipo II.

Como foi a adaptação? Desde o início tu conseguiu lidar bem com isso? (feita pelo Blog Devaneios Estrellares)
R.: Vish! Mais spoiler!! Vamos ver... A adaptação é um processo contínuo. Começa assim que você percebe estar perdendo o sentido e não termina nunca. É preciso reaprender uma forma de manter a comunicação, a compreender o mundo. No meu caso, por ser uma surda oralizada, o mundo consegue entender o que falo muito bem, mas eu preciso me esforçar em dobro para receber a resposta. E não, o começo não foi simples. Na verdade, nos dois primeiros anos eu precisei de acompanhamento psicológico, de apoio da família, e de muito esforço pessoal mesmo.

Eu já trabalhei com crianças surdas, porém todas elas nasceram assim. Como foi pra você que nasceu com esse sentido, perdê-lo de repente? (feita pelo Blog Profissão: Leitora)
R.: O começo é muito ruim mesmo. Você está acostumada a depender da audição para várias coisas e, então, do nada não a tem mais. Coisas simples da vida ficaram 3x mais difíceis. Eu não conseguia mais acompanhar aulas da graduação, as músicas na aula de dança, os sons corriqueiros do dia a dia. Era cansativo, a sensação de isolamento era enorme e o fato de que eu não conseguia me explicar piorava tudo. Havia um zumbido dentro dos ouvidos que era irritante. Com o temo, você se acostuma com algumas coisas, mas nunca com outras.

Quais as maiores dificuldades enfrentadas no seu dia a dia em consequência da surdez? (feita pelo Blog Clube do Livro e Amigos)
R.: Os sons que denunciam perigo são os que me deixam mais preocupada. Se, por acaso, iniciar um tiroteio em algum lugar entre minha casa e meu trabalho, serei a última a saber, a última a me jogar no chão e posso acabar sendo atingida. Se houver um acidente ou risco de incêndio e eu estiver distraída, posso ser vítima das circunstâncias.
Outra grande dificuldade é conversar em grupo, pois eu dependo sempre de uma pessoa que me resuma a conversa toda. Eu nunca sei o assunto na exata hora em que todos os discutem e apenas recebo uma edição do que foi decidido. É irritante porque eu tenho opinião formada sobre várias coisas e tenho poder de voto ou de veto em todas as áreas da minha vida. Quando sou inteirada da situação, a conversa já morreu, trocaram de assunto.
Uma outra coisa muito difícil de aceitar é a reação em forma de preconceito de quem ouve contra surdos oralizados. Quando você informa em alto e bom som que é surda, as pessoas fogem, fazem caretas de espanto, se encolhem, ficam com vergonha, mas nunca, nunca te olham como se nada estivesse errado. Para a maioria da população, surdos não falam e pronto. Mesmo se uma pessoa perder a audição na fase adulta. Algum tipo de mágica acontece e ela passa a usar sinais automaticamente e perde a voz. Sinceramente.....!

Como as pessoas reagem ao fato de ser tão ativa profissionalmente x surdez? (feita pelo Blog Clube do Livro e Amigos)
R.: Bom, devo confessar que eu mesma tinha lá meus preconceitos com surdez. Eu achava que surdos nunca conseguiriam status social e/ou profissional. Então, quando eu fiquei surda, apesar de estar no final da graduação, automaticamente passei a me ver como desempregada, desamparada, dependente financeiramente e rebaixada à uma condição profissional bem diferente da que eu almejava. Eu tive de mudar minha própria ideia do que era estar surda antes de poder batalhar pelas profissões que desejava e assim mostrar a todos que eu conseguiria se realmente quisesse e me esforçasse para isso.
No entanto, muitas pessoas continuam com aquela mentalidade: surdez = dependente social, deficiente que não sabe se cuidar, sobrevive de ajuda do governo, não tem competência pra ser nada na vida. Então, quando eu digo sou surda e sou bióloga, cientista, tenho Doutorado, sou escritora, sou bailarina, sou funcionária pública a reação é inicialmente: “Mas como isso é possível? Você aprendeu tudo isso antes, claro! Quem te colocou lá? Quem você conhece que te fez passar na prova?”. E por aí vai. Não foi assim, não foi assim nem um pouco: eu consegui a grande maioria dessas profissões todas DEPOIS de surda. E nem toda ajuda do mundo me faria chegar lá se eu não quisesse.

Na escola em que trabalhava, além do intérprete comigo nas aulas, as outras crianças tinham a possibilidade de também estudar libras. Porém, isso não é corriqueiro. Como você lida com isso no seu dia a dia? (feita pelo Blog Profissão: Leitora)
R.: Quando eu fiquei surda, a primeira coisa que aprendi foi a fazer leitura labial. Porque era o meio de comunicação que eu tinha à mão naquela época (sem contar o tempo em que todo mundo tinha de escrever tudo no papel, é claro). Nos primeiros anos, eu nem pensava em aprender Libras. E se assistir às aulas na pós-graduação tivesse sido mais simples, eu nem teria me dado ao trabalho de aprender sinais. O problema era que as coisas estavam indo rápido demais: eu fiquei surda e um ano depois já estava no mestrado, mesmo fazendo leitura labial meio capenga. Imagina então fazer leitura labial de um professor de bioquímica que não parava quieto ou de frente pra você, que falava muito rápido, metade das palavras eram em inglês e a sala estava sempre escura por causa dos slides? Então, por indicação, fiz o curso de Libras básico e, somente após, pude chamar intérpretes para me ajudar cm aulas. Mas... Nem sempre tinha intérprete disponível nos meus horários de aulas, então nem foi tanta ajuda assim.
Atualmente, eu dou preferência a cursos on-line, pois não há intermediários: sou eu e meu computador. Quando eu vou assistir palestras ou seminários, se há possibilidade de interpretação, eu a peço (mas não sou atendida na maioria das vezes). Se não há, faço como fazia nessas aulas: presto atenção exclusivamente nos slides e chego às minhas próprias conclusões do tema.

Pretende lançar mais livros sobre o tema? (feita pelo Blog Devaneios Estrellares)
R.: Por enquanto, não. Mas, futuramente, talvez. Dependerá muito de como eu manterei minhas trocentas profissões. Os próximos livros serão ficcionais.

O livro "Pérolas de minha surdez" é para ajudar pessoas surdas como você, para conscientizar as pessoas no geral ou tem algum outro objetivo além desses? (feita pelo Blog Cantinho Cult)
R.: Ahá! A pergunta de ouro! Quando escrevi o livro pensei que ele fosse mais voltado ao público ouvinte para, como você mesma disse, conscientizar sobre o mundo do silêncio. Mas, durante o processo de escrita do livro, eu descobri muitas coisas que os surdos mesmo desconhecem. Eu pude perceber que surdos da comunidade tem uma certa intolerância com surdos de fora. Além disso, muitos têm preconceito contra a língua portuguesa. Ainda há os casos de desinformação mesmo: eles conhecem muitos surdos famosos que tenham trabalhado na área da surdez, mas não conheciam em outras áreas, como ciência, música, artes, TV, etc. Então, nesse ponto, o livro tem por objetivo ajuda-los a ver outros mundos e, ao mesmo tempo, fazer o mundo olhar pra gente.

Além do livro, você pretende trabalhar com palestras? (feita pelo Blog Profissão: Leitora)
R.: Seria imprescindível trabalhar com outras formas de propagação dessa história além do livro. Palestras e visitas em escolas são algumas delas. Assim que a divulgação inicial do livro estiver ‘assentada’, iniciarei o processo de participação ativa de forma mais pessoal.
Também possui textos e poesias publicadas em várias antologias?
Em 2014, quando completei meu doutorado, percebi que poderia investir em outras áreas de estudo. Após dois anos de embromação, finalmente decidi escrever meu livro e me aprofundar na carreira de escritor. Então, comecei cursos à distância (na WWCursos, uma filial da Editora WWLivros) e a participar de seleção de contos para antologias. A primeira seleção eu soube por um grupo de escritores em uma rede social. Meu primeiro conto (“Pendências”) e duas poesias mais antigas (“Dúvida” e “Maldita Saudade”) foram selecionados para Antologia Amor e Morte, em agosto/setembro/2014. A partir daí, as oportunidades começaram a aumentar e desde então eu já tenho 3 cursos completos e outros textos selecionados para as seguintes Antologias, todas organizadas pela autora Rô Mierling: “Lenço Vermelho” (conto), na Antologia Sombras e Desejos; “Curiosidade” (conto), na Antologia eu me Ofereço-Tributo a Stephen King; “Quanto tempo”, “Paradoxo de uma vida”, “365 dias”, “Vida corrida” e “Eu danço” (5 poesias) para a Antologia Vida e Verso.

Por hoje é só, mas amanhã tem mais.
;D

Um comentário:

  1. Oi, Nel!!!
    Ficou um arraso!!!
    Foi extremamente divertido responder as perguntas! Foram ótimas perguntas que chegaram bem no X da questão... Ajudam a complementar o livro e a me apresentar melhor... ;)
    Adorei!!! beijo!!! Nu.

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