25 janeiro, 2014

Cuidado com a Cuca!

Ouro, Fogo & Megabytes 
vol. 1 da série  O Legado Folclórico
por Felipe Castilho
Gutenberg - 286 pgs 

Ouro, fogo, megabytes, folclore? Tudo assim, junto mesmo? Pois é, tudo junto e muito bem misturado é o que esse livro, que é o primeiro de uma série, nos traz.

É a história de Anderson Coelho, um garoto de 12 anos, morador da cidadezinha de Rastelinho, no interior de Minas Gerais.

Anderson tem duas vidas: em uma delas ele é um garoto comum que mora com os pais, vai à escola. Na outra vida, ele é Shadow Hunter, o 2° colocado no ranking do Battle of Asgorath (BoA), um jogo de RPG on line.

Ele se divide entre a escola e o jogo, ao qual dedica quase todo seu tempo livre. Lá ele é o GM de uma guilda, e busca incessantemente alcançar 1° lugar no ranking... opa, pera lá... BoA, RPG, GM, guilda, o que é tudo isso? Calma, não entre em pânico, esses são alguns dos termos usados por jogadores. Não se assuste! Na primeira página tem um glossário explicando tudo direitinho sobre esses termos e outros tantos. Mesmo os mais alérgicos a vida virtual e seus derivados entenderão tudo.

Voltando. Em uma de suas aventuras no BoA, de repente surge um jogador iniciante de nome José da Silva Santos, falando com ele em um português polido demais para o jogo (nesses ambientes as pessoas conversam usando siglas).

Esse cara diz precisar da ajuda de Anderson, oferece um trabalho na vida real, mas antes quer conversar pessoalmente com ele. Vixi, papo estranho pacas. Pro Anderson a conversa já deu e sai do jogo sem dizer mais nada.

Na sequência o telefone toca, e adivinhem... Sim, é o tal Zé da Silva. Como esse cara e achou? Depois de uma curta conversa Anderson diz não ter interesse no emprego.

No dia seguinte, durante a aula de Educação Física, Anderson e seus amigos Renato (Hell Hammer no BoA) e Wilson Caladão, estão em um canto da quadra. Anderson e Renato jogando xadrez e Wilson focado no tablet, porque futebol não é a praia deles.

Em determinado momento, um dos meninos erra um passe, e a bola vai na direção do trio. Anderson, com toda sua habilidade, decide devolver a bola com um chute espetacular. Mas, como previsto pelos seus amigos, o chute sai completamente torto, e a bola cai em um terreno vazio ao lado da escola. Enquanto o professor vai pegar outros materiais para continuar a aula, Anderson é desafiado a buscar a bola, e mesmo contra a vontade de seus amigos, ele o faz.

Depois de pular o muro da escola, desce rolando barranco abaixo, e encontra a bola na boca de um ser, no mínimo intrigante: um urso de olhos azuis faiscantes. Urso, em Minas Gerais? Epa, pera lá, olhos azuis?

Na volta do resgate, todo ralado e sujo, Anderson se depara com uma suspensão de três dias, com seus amigos dizendo "eu avisei", e com os outros alunos tirando sarro de sua cara.

E agora, como contar isso para seus pais?

Ele decide aproveitar seus últimos minutos como Shadow Hunter e corre para casa, pois já prevê que ficará de castigo alguns dias, longe do jogo.

Porém, quando chega em casa tem um cara estranho conversando com seus pais. E, para sua surpresa, eles estão felizes com a notícia de que ele irá participar de uma Olimpíada de Matemática em São Paulo. Esse tal cara é o Zé da Silva, o novato do jogo, e foi ele que veio trazer essa notícia. Como assim?  O que o Zé está fazendo aqui? Que Olimpíada? Anderson é péssimo em Matemática.

Sem entender nada, Anderson é praticamente empurrado pelos pais para acompanhar o Zé a essa tal Olimpíada. E ele vai, afinal essa é uma boa desculpa pra evitar o castigo. Em São Paulo ele descobre que tudo é uma farsa e que Zé é membro de uma ONG chamada Organização e precisa de sua ajuda para "destruir" Wagner Rios, um empresário sem escrúpulos e sua instituição.

A partir daí, Anderson é envolvido em uma trama onde seres do nosso folclore se misturam a vida real em uma aventura sem precedentes.        

O livro é extremamente divertido, diversas vezes me peguei tendo que segurar a gargalhada, por estar em locais públicos. A narrativa é envolvente, difícil deixar ele de lado.

Ele é narrado em terceira pessoa, e o narrador só toma a voz pra si quando nos avisa que não tem nada a ver com os acontecimentos ali descritos, afinal, ele é apenas o narrador.

O livro é cheio de citações pop como músicas, séries e livros. Cada capítulo é iniciado com uma ilustração que nos dá ideia do que nos espera nas páginas seguintes.

A diagramação é muito boa, a capa é linda, com um único detalhe que não gostei. As letras do título são em um dourado irisado, mas com o manuseio, e olha que tomo muito cuidado mesmo, logo nos primeiros dias perdeu o irisado e o dourado ficou um pouco desgastado.


Fora isso, é joia. Até tentei, mas não deu pra ser imparcial.



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