O Rei de Amarelo de Robert W. Chambers

O Rei de Amarelo (The King in Yellow)

Robert W. Chambers (Edmundo Barreiros)

Intrínseca - 254 pgs

A princípio eu acreditava que era um livro inteiro, com uma história do começo ao fim. Mas não, o livro é uma coletânea com 10 contos. Os 4 primeiros, são os que tem como pano de fundo a peça de teatro chamada "O Rei de Amarelo". Os 4 últimos são contos românticos, com alusão à vida boêmia de Paris do século XIX. Entre eles existem 2, que são considerados a transição entre a fantasia da 1ª parte e o realismo da 2ª.

Antes de mais nada, li o livro inteiro, mas só falarei nesse post sobre os quatro primeiros contos, pois quero focar apenas na mitologia do Rei de Amarelo. Num futuro falarei sobre os outros.

Dito isso, vamos ao que interessa.

O Rei de Amarelo é uma peça de teatro em 2 atos, envolta em muito mistério e suspense. Porém, nós não temos acesso a ela. Durante a leitura o autor nos dá algumas informações sobre a aparência do rei, nome de algumas personagens, algumas ambientações, mas é só. E isso é quase desesperador, porque ao final da leitura você quer de qualquer ler essa peça, mas ela não existe. Aliás, na cabeça do Robert W. Chambers com certeza existia, mas ele nunca colocou isso no papel.

As personagens dos contos tiveram de alguma maneira acesso a essa peça, e após a leitura todas enlouqueceram. O que nos é passado durante a narrativa, é de que não há esperança para quem lê esse livro, e ponto final. A única opção que temos, é nos mantermos longe dele. Os contos são independentes, com personagens diferentes, porém além da leitura do Rei de Amarelo, existem algumas ligações sutis entre um conto e outro.

Pra completar esse ar misterioso ao qual não temos total acesso, o livro ainda dá margem pra imaginarmos em qual época ele é passado. No início acreditei que era ambientado em algum lugar no século XIX, mas com o passar das páginas, achei que também seria possível que fosse em um futuro distópico. Isso não fica claro em nenhum momento. E ainda mais, durante a leitura é possível perceber referências a Edgar Allan Poe, a Ambroise Bierce, Oscar Wilde, entre outros.

Quando comecei a ler, não fazia a menor ideia de toda essa mitologia que envolve O Rei de Amarelo, mas ao final dela, a única coisa que queria era mais. E caramba, como queria mesmo que sob a ameaça de enlouquecer, ter acesso a peça original. O livro é excelente. Ele te prende a atenção do início ao fim. Nada do que disser aqui será capaz de expressar o que senti ao lê-lo. É uma verdadeira imersão em outro universo.

Os contos não são exatamente de terror. Tem sim uma pegada meio assustadora, mas é mais voltado pro terror psicológico e pra fantasia delirante, como Carlos Orsi mesmo cita na introdução. Aliás, que introdução. Só ela já vale a leitura do livro, mas eu recomendo que a leia após o término do livro. A Introdução não traz nenhum spoiller, mas dá muitas dicas que coisinhas que acontecem na história, que eu achei mais bacana descobrir sozinha.

Outra coisa muito massa no livro são as notas de fim de capítulo. Ao final de cada conto, seguem várias notas, com citações ou explicações totalmente relevantes. Muitas delas ajudam o leitor a se situar no contexto da obra. Deve ser lido!

A edição é bem caprichada. Diagramação muito boa, páginas amarelas, orelhas, e a capa é de um material diferenciado, tem um leve textura. E o melhor de tudo: não encontrei nenhum erro de revisão. ;D

Pra resumir, é impossível não recomendar esse livro. Foi uma das minhas melhores leituras. E apesar dos contos serem perturbadores, não enlouqueci. Pelo menos, é o que acho. ¯\_(ツ)_/¯

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