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Como Tatuagem por Walter Tierno
Verus Editora - 307 pgs
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Antes de começar a falar sobre a obra, preciso reiterar que não gosto de romances. Aí você pensa: lá vem a maluca falar mal de um gênero que ela nem gosta, tsc, tsc. Calma lá amiguinhos. Apesar de não gostar de romances eu sou aquela leitora que gosta de correr riscos, vira e mexe saio da minha zona de conforto e me arrisco por aí. E crianças, ouçam o recado da titia Nelmaliana: mesmo não gostando de certos gêneros, arrisquem-se nessas leituras, muitas vezes temos gratas surpresas. E essa leitura foi daquelas que me fez terminar a última frase com um sorriso no rosto.
No primeiro capítulo somos apresentados a Artur, e logo nas primeiras frases é possível perceber que se trata de um filhinho de papai mimado e egocêntrico. Ele leva a vida como um playboy e coleciona encontros fugazes com mulheres das quais nem se lembra o nome. Nesse mesmo capítulo, começamos a acompanhar o seu desespero em aceitar as sequelas que um grave acidente de carro lhe traz e que irá mudar por completo sua vida.
No capítulo seguinte é a hora de conhecermos Lúcia, uma jovem fisioterapeuta que desde cedo lida com o preconceito que as pessoas ainda tem sobre o vitiligo, problema que está estampado em seu rosto, mas que ela consegue esconder com camadas de maquiagem. Tem em sua mãe, a Mamuska como carinhosamente a chama, o seu ponto de apoio e segurança. Até que o destino a surpreende com a perda da sua mãe e de seu emprego.
Esses acontecimentos fazem com que essas pessoas se encontrem e suas histórias se entrelacem.
À primeira vista parece um plot comum, e de certa forma é. Mas a maneira como o autor leva a história é que faz toda a diferença.
Artur é um verdadeiro sacana, peguei ranço dele de cara. E a cada página, eu tinha ganas de pular no pescoço dele. Porém, no decorrer das páginas, é possível entender o porquê desse comportamento, o que o faz ser quem é. Lúcia é uma garota que passa por inúmeros problemas desde cedo, e diante disso podia com facilidade ser uma mocinha frágil, dependente, bobona. Mas nada disso. Ela é uma mulher forte, emponderada, mas que mantém uma doçura em si. São personagens reais, verossímeis, e isso me cativou. Por mais de uma vez eu me vi retratada na Lúcia, e confesso que algumas vezes me vi no Artur também. E quando reclamo de romances é disso que falo. Pra mim, independente da história do livro, eu preciso acreditar nela. E essa é daquelas que são totalmente reais, palpáveis.
A narrativa da história é direta, durante ela vemos um Artur egocêntrico se tornar um homem mais centrado, que percebe seus erros e tenta se tornar alguém melhor. Também acompanhamos a batalha da Lúcia em se livrar dos receios que a impedem de se mostrar como é. E tudo isso regado a um romance que acontece aos poucos, de maneira natural, mas com muita intensidade e alguns momentos hot.
O livro é narrado em primeira pessoa com capítulos que se alternam entre a fala do Artur e da Lúcia, o que faz com que o leitor tenha uma visão ampla do que acontece, e possa entender os dois lados da história. Temos vários personagens secundários, e cada um tem seu espaço bem definido. É possível conhecer a personagem e entender o seu papel na trama em poucas linhas. A parte gráfica está impecável, não encontrei nenhum erro de revisão, o que é algo raro. A capa é linda, e é ilustrada pelo próprio autor.
Porém, nem tudo são flores. Teve algo que me incomodou um pouco durante a leitura. Eu sou meio cri cri com repetições de frases, palavras, expressões... tudo que tiver repetição me incomoda. A Lúcia tem a mania de transformar substantivos em verbos, dar ação a todas as palavras.
... Facilitaria se existisse um verbo para pesadelo... Eu pesadelo, tu pesadelas...
pg 23
No início eu achei massa demais, cheguei a me apropriei de alguns, mas no decorrer da leitura isso se tornou deveras cansativo pra mim, e confesso que depois de um tempo eu não lia a conjugação completa. Mas isso é um xiste de uma leitora chata, não prejudica em nada a leitura.
No mais, a leitura está mais do que recomendada. Walter Tierno é um autor que mais uma vez mostrou que é capaz de escrever diferentes gêneros de maneira a deixar o leitor preso a história do início ao fim.