Anardeus - No Calor da Destruição
por Walter Tierno
Giz Editorial - pgs 181
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Esse
é aquele tipo de livro que é quase impossível falar a respeito. Primeiro porque
ele não se enquadra em rótulos, segundo porque é extremamente perturbador, mas
excelente.
O
livro é narrado em primeira pessoa, com alguns pontos muito interessantes. Um
deles são os diálogos. Na maioria deles, antes dos travessões vem o nome de quem
tem a palavra, e o mais interessante ainda é que muitas vezes também nos é
mostrado o sentimento ou ação que a personagem tem naquele momento.
"Nossa mãe,
tremendo: - ...
Nosso pai,
aplicando uma mentira que não cola nem em quem reza: - ... (pg 21)"
Outro
ponto é o uso das palavras. Durante o livro inteiro são usados palavrões, mas
com tamanha naturalidade e de forma magistral que chega a ser poético.
Mas
vamos lá. O livro conta a história de Anardeus e sua irmã gêmea Isabel. Eles
são completamente opostos, mas se complementam. Independente da temperatura
ambiente, ela sente um calor febril e ele um frio gélido. Ela gosta de tudo e
todos, e ele, bem ele quer que tudo vá literalmente à merda.
Isso
já se vê no momento do nascimento. Isabel nasce linda, arrancando suspiros de
todos que a veem, enquanto Anardeus é praticamente expelido e por pouco não cai
no chão. Logo depois é alvo de um aposta entre as enfermeiras na qual a
perdedora terá o prazer de dar o primeiro banho nele.
"A perdedora
fica tão desgostosa com a tarefa e é tão displicente que quase me afoga. Faço
questão de oferecer minha primeira cagada na banheira, em suas mãos. Ela não
consegue evitar o palavrão. A chefe, freira cu de ferro, está perto e ouve.
Dá-lhe um esporro, e a enfermeira embosteada chora de desgosto, nojo, vergonha
e raiva. (pg 16)"
É
dessa forma que Anardeus nos é apresentado, sem meias palavras. E assim
a vida segue. Ele cresce sempre sendo deixado de lado, enquanto Isabel recebe
toda a atenção.
Qualquer
coisa dita além disso pode tirar o prazer da descoberta dessa aventura quase
apocalíptica.
A
narrativa vai direto ao ponto, sem subterfúgios.
A
diagramação é excelente e tem páginas amarelas. Além disso, o livro tem
diversas ilustrações, na capa e no miolo, e todas foram feitas pelo autor.
Se
você procura uma história com um realismo pungente, mas que ao mesmo tempo
consegue caminhar no mundo fantástico, onde os personagens são tão reais que
você chega a achar que já viu esses caras por aí, esse é o LIVRO. Mas se você
acha que não é bem isso que você está procurando, abra sua mente e leia
Anardeus, pois tudo pode acontecer, menos indiferença.
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