22 fevereiro, 2014

De médico e Anardeus todo mundo tem um pouco

Anardeus - No Calor da Destruição 
por Walter Tierno
Giz Editorial - pgs 181

Esse é aquele tipo de livro que é quase impossível falar a respeito. Primeiro porque ele não se enquadra em rótulos, segundo porque é extremamente perturbador, mas excelente.

O livro é narrado em primeira pessoa, com alguns pontos muito interessantes. Um deles são os diálogos. Na maioria deles, antes dos travessões vem o nome de quem tem a palavra, e o mais interessante ainda é que muitas vezes também nos é mostrado o sentimento ou ação que a personagem tem naquele momento.

"Nossa mãe, tremendo: - ...
Nosso pai, aplicando uma mentira que não cola nem em quem reza: - ... (pg 21)"

Outro ponto é o uso das palavras. Durante o livro inteiro são usados palavrões, mas com tamanha naturalidade e de forma magistral que chega a ser poético.

Mas vamos lá. O livro conta a história de Anardeus e sua irmã gêmea Isabel. Eles são completamente opostos, mas se complementam. Independente da temperatura ambiente, ela sente um calor febril e ele um frio gélido. Ela gosta de tudo e todos, e ele, bem ele quer que tudo vá literalmente à merda.

Isso já se vê no momento do nascimento. Isabel nasce linda, arrancando suspiros de todos que a veem, enquanto Anardeus é praticamente expelido e por pouco não cai no chão. Logo depois é alvo de um aposta entre as enfermeiras na qual a perdedora terá o prazer de dar o primeiro banho nele.

"A perdedora fica tão desgostosa com a tarefa e é tão displicente que quase me afoga. Faço questão de oferecer minha primeira cagada na banheira, em suas mãos. Ela não consegue evitar o palavrão. A chefe, freira cu de ferro, está perto e ouve. Dá-lhe um esporro, e a enfermeira embosteada chora de desgosto, nojo, vergonha e raiva. (pg 16)"

É dessa forma que Anardeus nos é apresentado, sem meias palavras. E assim a vida segue. Ele cresce sempre sendo deixado de lado, enquanto Isabel recebe toda a atenção.

Qualquer coisa dita além disso pode tirar o prazer da descoberta dessa aventura quase apocalíptica.

A narrativa vai direto ao ponto, sem subterfúgios.

A diagramação é excelente e tem páginas amarelas. Além disso, o livro tem diversas ilustrações, na capa e no miolo, e todas foram feitas pelo autor.


Se você procura uma história com um realismo pungente, mas que ao mesmo tempo consegue caminhar no mundo fantástico, onde os personagens são tão reais que você chega a achar que já viu esses caras por aí, esse é o LIVRO. Mas se você acha que não é bem isso que você está procurando, abra sua mente e leia Anardeus, pois tudo pode acontecer, menos indiferença.





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