Hora de conhecer um cadinho mais sobre autora de Pérolas da Minha Surdez. Eu mais alguns blogs fizemos diversas perguntas a ela, e carinhosamente todas foram respondidas. Vamos Ver como ficou essa entrevista batuta?
O que a levou a escrever? Escrever
sempre foi um hábito teu? (feita pelo Blog Blá Blá Blá da Lis e pelo Blog Devaneios Estrellares)
R. Hum... pergunta capciosa....
Existem muitos fatores que eu poderia considerar como aqueles iniciais. E não,
escrever não é um hábito de tempos remotos. Ler sempre foi!
Com poesias, foi bem simples e
começou na adolescência: o sentimento vinha, as palavras vinham logo depois e
tudo escapava para o papel. Já os contos e livros foram bem mais atuais e é
mais difícil saber o que motivou. Ler (de tudo! Livros, jornais, revistas,
outdoor) é um fator, óbvio. Mas não o suficiente para que eu deixasse a zona de
leitor e passasse a de escritor. Eu tinha muitas ideias do tipo “E se...” e as
anotava mas nunca as desenvolvi, nem pensava em livros publicados. Até ver um
curso e uma chamada para antologia. E pensei... “por que não tentar?” E estamos
aqui, dois anos depois.
Qual sua inspiração para escrever seus livros? (feita pelo Blog Livraria dos Sonhos e pelo Blog Cantinho Cult)
R.: Meus textos não têm hora ou
local, nenhuma inspiração específica. A inspiração pode vir de uma situação
cotidiana, de uma cena em um filme ou seriado, de conversas aleatórias. Pode
vir de um acidente ou de observar a natureza. A inspiração chega na hora que
quer, seja de manhã, no ônibus, às vezes de madrugada. Por exemplo: o conto
“Curiosidade” foi inspirado em um acidente em casa, quando a prateleira de
vidro caiu e espalhou vidro embaixo da minha cama. Daí eu olhando enquanto
limpava, pensei: “que louco seria se tivesse um alçapão ou porão escondido
embaixo da cama...” E tchans! Rsrs...
Livro completo mesmo, apenas o
Pérolas. A maioria do meu trabalho é contos e poesia. O próximo livro, cuja
escrita estou iniciando, é uma ficção fantástica, fantasia urbana. A inspiração
pra ele veio do fato de terem poucos livros com a temática central que escolhi.
O que faz parte do seu processo criativo? Tem algum ritual para
escrever os livros? (feita pelo Blog Cantinho Cult)
R.: Eu procuro manter um horário para escrever.
Tento, muito veementemente, manter este horário (que costumam ser dias de
semana pela manhã e sábado à noite), mas eu sou um bocado inconstante. Por ter
outras profissões, às vezes é impossível seguir um processo ou ritual
específico. O que costuma acontecer quando eu realmente consigo me focar é:
preciso de um pacote de biscoito salgado; preciso de uma caixa de doce (bombom,
cocada, não importa); preciso do meu caderno de ideias e caneta preta; e que me
interrompam com questões triviais o mínimo possível. Desligo as notificações de
redes sociais e deixo o celular longe da mesa para não me distrair com as
vibrações do whatsapp. Quando começa o bloqueio criativo, saio da mesa e vou
perturbar minha cadela. Rsrs...
Possui textos e poesias publicadas em várias antologias, correto?
(feita pelo Blog Entre Livros e Pergaminhos)
R. Correto! Em 2014, quando
completei meu doutorado, percebi que poderia investir em outras áreas de
estudo. Após dois anos de embromação, decidi me aprofundar na carreira de
escritor. Então, comecei cursos à distância e participei de seleção de contos
para antologias, que conheci em um grupo de escritores de uma rede social. Meu
primeiro conto (“Pendências”) e duas poesias mais antigas (“Dúvida” e “Maldita
Saudade”) foram selecionados para Antologia Amor e Morte, em setembro/2014. A
partir daí, as oportunidades começaram a aumentar e desde então eu já tenho 3
cursos completos e outros textos selecionados para as seguintes Antologias,
todas organizadas pela autora Rô Mierling: “Lenço Vermelho” (conto), na
Antologia Sombras e Desejos; “Curiosidade” (conto), na Antologia Eu me
Ofereço-Tributo a Stephen King; “Quanto tempo”, “Paradoxo de uma vida”, “365
dias”, “Vida corrida” e “Eu danço” (5 poesias) para a Antologia Vida e Verso.
Quem quiser
ler os contos e as poesias, podem acessar meu blog (http://1001nuccias.blogspot.com.br/).
Como surgiu a ideia de escrever o livro? (feita pelo Blog My SecretWorld)
R.: A ideia começou a tomar forma quando eu estava
começando meu doutorado, mais ou menos, a mesma época em que comecei a me
acostumar com leitura labial de pessoas estranhas. Aconteceu uma situação
engraçada em que uma pessoa fez uma pergunta bizarra e, então, compartilhei a
história em uma rede social. Viralizou e a reação foi imediata: “você deveria
escrever um livro sobre essas ‘pérolas’, vai ajudar todo mundo a entender esse
mundo novo...” E durante três anos a ideia ficou lá, guardada, até finalmente
chegar a vocês.
O que motivou a escrita de “Pérolas de minha surdez”? (feita pelo Blog Clube do Livro e Amigos)
R.: Ter a ideia e a motivação são
coisas diferentes. Gostei de responder essas duas perguntas em separado. Como
vocês viram aí em cima, a ideia surgiu por uma situação cotidiana que para mim
era coisa nova. A motivação para realmente fazer o livro sair do âmbito das
ideias e ir ao computador, na verdade, foram duas: 1) uma amiga que insistiu
durante meses que eu deveria mesmo escrever cada detalhe da adaptação tendo em
vista que ajudaria muitas pessoas a entenderem o meu lado e 2) a quantidade de
perguntas e reações bizarras só aumentava! Com o tempo eu parei pra pensar que
muitas delas eram minhas perguntas também, quando ainda ouvia e não conhecia
esse mundo. Ajudar a mm e a outros surdos a serem compreendidos foi a motivação
final.
Quais foram os motivos que provocaram a sua surdez? (feita pelo Blog Smile, You Have a Book)
R.: Ahá... vou dar spoiler do
livro!.... Hahaha... de forma rapidinha, sem entrar muito no assunto: descobri,
já na fase adiantada da doença, que tenho um defeito genético no cromossomo 22.
Esse defeito faz com que meu organismo não produza uma proteína supressora de
tumores. Essa proteína protege essencialmente os neurônios. Então, meu
defeitinho, faz com que tumores possam crescer no meu sistema nervoso. E eles
começam especificamente no sistema nervoso auditivo o que leva à surdez por
afetar o nervo auditivo e os ossos ao redor dele.. A doença se chama
Neurofibromatose do tipo II.
Como foi a adaptação? Desde o início tu conseguiu lidar bem com isso? (feita
pelo Blog Devaneios Estrellares)
R.: Vish! Mais spoiler!! Vamos
ver... A adaptação é um processo contínuo. Começa assim que você percebe estar
perdendo o sentido e não termina nunca. É preciso reaprender uma forma de
manter a comunicação, a compreender o mundo. No meu caso, por ser uma surda
oralizada, o mundo consegue entender o que falo muito bem, mas eu preciso me
esforçar em dobro para receber a resposta. E não, o começo não foi simples. Na
verdade, nos dois primeiros anos eu precisei de acompanhamento psicológico, de
apoio da família, e de muito esforço pessoal mesmo.
Eu já trabalhei com crianças surdas, porém todas elas nasceram assim.
Como foi pra você que nasceu com esse sentido, perdê-lo de repente? (feita pelo
Blog Profissão: Leitora)
R.: O começo é muito ruim mesmo.
Você está acostumada a depender da audição para várias coisas e, então, do nada
não a tem mais. Coisas simples da vida ficaram 3x mais difíceis. Eu não
conseguia mais acompanhar aulas da graduação, as músicas na aula de dança, os
sons corriqueiros do dia a dia. Era cansativo, a sensação de isolamento era
enorme e o fato de que eu não conseguia me explicar piorava tudo. Havia um zumbido
dentro dos ouvidos que era irritante. Com o temo, você se acostuma com algumas
coisas, mas nunca com outras.
Quais as maiores dificuldades enfrentadas no seu dia a dia em
consequência da surdez? (feita pelo Blog Clube do Livro e Amigos)
R.: Os sons que denunciam perigo
são os que me deixam mais preocupada. Se, por acaso, iniciar um tiroteio em
algum lugar entre minha casa e meu trabalho, serei a última a saber, a última a
me jogar no chão e posso acabar sendo atingida. Se houver um acidente ou risco
de incêndio e eu estiver distraída, posso ser vítima das circunstâncias.
Outra grande dificuldade é
conversar em grupo, pois eu dependo sempre de uma pessoa que me resuma a
conversa toda. Eu nunca sei o assunto na exata hora em que todos os discutem e apenas
recebo uma edição do que foi decidido. É irritante porque eu tenho opinião
formada sobre várias coisas e tenho poder de voto ou de veto em todas as áreas
da minha vida. Quando sou inteirada da situação, a conversa já morreu, trocaram
de assunto.
Uma outra coisa muito difícil de
aceitar é a reação em forma de preconceito de quem ouve contra surdos
oralizados. Quando você informa em alto e bom som que é surda, as pessoas
fogem, fazem caretas de espanto, se encolhem, ficam com vergonha, mas nunca,
nunca te olham como se nada estivesse errado. Para a maioria da população,
surdos não falam e pronto. Mesmo se uma pessoa perder a audição na fase adulta.
Algum tipo de mágica acontece e ela passa a usar sinais automaticamente e perde
a voz. Sinceramente.....!
Como as pessoas reagem ao fato de ser tão ativa profissionalmente x surdez?
(feita pelo Blog Clube do Livro e Amigos)
R.: Bom, devo confessar que eu
mesma tinha lá meus preconceitos com surdez. Eu achava que surdos nunca
conseguiriam status social e/ou profissional. Então, quando eu fiquei surda,
apesar de estar no final da graduação, automaticamente passei a me ver como
desempregada, desamparada, dependente financeiramente e rebaixada à uma
condição profissional bem diferente da que eu almejava. Eu tive de mudar minha
própria ideia do que era estar surda antes de poder batalhar pelas profissões
que desejava e assim mostrar a todos que eu conseguiria se realmente quisesse e
me esforçasse para isso.
No entanto, muitas pessoas
continuam com aquela mentalidade: surdez = dependente social, deficiente que
não sabe se cuidar, sobrevive de ajuda do governo, não tem competência pra ser
nada na vida. Então, quando eu digo sou surda e sou bióloga, cientista, tenho
Doutorado, sou escritora, sou bailarina, sou funcionária pública a reação é
inicialmente: “Mas como isso é possível? Você aprendeu tudo isso antes, claro!
Quem te colocou lá? Quem você conhece que te fez passar na prova?”. E por aí
vai. Não foi assim, não foi assim nem um pouco: eu consegui a grande maioria
dessas profissões todas DEPOIS de surda. E nem toda ajuda do mundo me faria
chegar lá se eu não quisesse.
Na escola em que trabalhava, além do intérprete comigo nas aulas, as
outras crianças tinham a possibilidade de também estudar libras. Porém, isso
não é corriqueiro. Como você lida com isso no seu dia a dia? (feita pelo Blog
Profissão: Leitora)
R.: Quando eu fiquei surda, a
primeira coisa que aprendi foi a fazer leitura labial. Porque era o meio de
comunicação que eu tinha à mão naquela época (sem contar o tempo em que todo
mundo tinha de escrever tudo no papel, é claro). Nos primeiros anos, eu nem
pensava em aprender Libras. E se assistir às aulas na pós-graduação tivesse
sido mais simples, eu nem teria me dado ao trabalho de aprender sinais. O
problema era que as coisas estavam indo rápido demais: eu fiquei surda e um ano
depois já estava no mestrado, mesmo fazendo leitura labial meio capenga.
Imagina então fazer leitura labial de um professor de bioquímica que não parava
quieto ou de frente pra você, que falava muito rápido, metade das palavras eram
em inglês e a sala estava sempre escura por causa dos slides? Então, por
indicação, fiz o curso de Libras básico e, somente após, pude chamar intérpretes
para me ajudar cm aulas. Mas... Nem sempre tinha intérprete disponível nos meus
horários de aulas, então nem foi tanta ajuda assim.
Atualmente, eu dou preferência a
cursos on-line, pois não há intermediários: sou eu e meu computador. Quando eu
vou assistir palestras ou seminários, se há possibilidade de interpretação, eu
a peço (mas não sou atendida na maioria das vezes). Se não há, faço como fazia
nessas aulas: presto atenção exclusivamente nos slides e chego às minhas
próprias conclusões do tema.
Pretende lançar mais livros sobre o tema? (feita pelo Blog Devaneios Estrellares)
R.: Por enquanto, não. Mas,
futuramente, talvez. Dependerá muito de como eu manterei minhas trocentas
profissões. Os próximos livros serão ficcionais.
O livro "Pérolas de minha surdez" é para ajudar pessoas
surdas como você, para conscientizar as pessoas no geral ou tem algum outro
objetivo além desses? (feita pelo Blog Cantinho Cult)
R.: Ahá! A pergunta de ouro!
Quando escrevi o livro pensei que ele fosse mais voltado ao público ouvinte
para, como você mesma disse, conscientizar sobre o mundo do silêncio. Mas,
durante o processo de escrita do livro, eu descobri muitas coisas que os surdos
mesmo desconhecem. Eu pude perceber que surdos da comunidade tem uma certa
intolerância com surdos de fora. Além disso, muitos têm preconceito contra a
língua portuguesa. Ainda há os casos de desinformação mesmo: eles conhecem
muitos surdos famosos que tenham trabalhado na área da surdez, mas não
conheciam em outras áreas, como ciência, música, artes, TV, etc. Então, nesse
ponto, o livro tem por objetivo ajuda-los a ver outros mundos e, ao mesmo
tempo, fazer o mundo olhar pra gente.
Além do livro, você pretende trabalhar com palestras? (feita pelo Blog
Profissão: Leitora)
R.: Seria imprescindível
trabalhar com outras formas de propagação dessa história além do livro.
Palestras e visitas em escolas são algumas delas. Assim que a divulgação
inicial do livro estiver ‘assentada’, iniciarei o processo de participação
ativa de forma mais pessoal.
Também possui textos e poesias
publicadas em várias antologias?
Em 2014, quando completei meu
doutorado, percebi que poderia investir em outras áreas de estudo. Após dois
anos de embromação, finalmente decidi escrever meu livro e me aprofundar na
carreira de escritor. Então, comecei cursos à distância (na WWCursos, uma
filial da Editora WWLivros) e a participar de seleção de contos para
antologias. A primeira seleção eu soube por um grupo de escritores em uma rede
social. Meu primeiro conto (“Pendências”) e duas poesias mais antigas (“Dúvida”
e “Maldita Saudade”) foram selecionados para Antologia Amor e Morte, em
agosto/setembro/2014. A partir daí, as oportunidades começaram a aumentar e
desde então eu já tenho 3 cursos completos e outros textos selecionados para as
seguintes Antologias, todas organizadas pela autora Rô Mierling: “Lenço
Vermelho” (conto), na Antologia Sombras e Desejos; “Curiosidade” (conto), na
Antologia eu me Ofereço-Tributo a Stephen King; “Quanto tempo”, “Paradoxo de
uma vida”, “365 dias”, “Vida corrida” e “Eu danço” (5 poesias) para a Antologia
Vida e Verso.
Por hoje é só, mas amanhã tem mais.
;D
Oi, Nel!!!
ResponderExcluirFicou um arraso!!!
Foi extremamente divertido responder as perguntas! Foram ótimas perguntas que chegaram bem no X da questão... Ajudam a complementar o livro e a me apresentar melhor... ;)
Adorei!!! beijo!!! Nu.